Como tudo começou!

Junho é o mês do orgulho queer, com marchas e celebrações que remontam ao dia 28 de Junho de 1969, considerado o momento fundador do movimento LGBTQIA+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgénero, Queer, Interssexual, Assexual) nos Estados Unidos.

Naquela madrugada, a polícia invadiu o Stonewall Inn, um bar de Greenwich Village, Nova Iorque, frequentado principalmente por homens gays, mas também lésbicas e pessoas "trans".

Pela primeira vez, ripostaram, expulsando a polícia e dando início à chamada revolta de Stonewall, que durou até 2 de Julho.

Na linha da frente estiveram pessoas como Marsha P. Johnson e Sylvia Rivera, mulheres "trans" que terão um monumento instalado pela câmara de Nova Iorque em Greenwich Village.

Mas se a luta pelos direitos LGBTQIA+ ganhou mais visibilidade nessa altura (se tivermos como referência os EUA), a história de resistência começa muito antes.

Foi por causa da vontade de dar a conhecer as vivências de pessoas queer noutras épocas que Leighton Brown e Matthew Riemer, advogados de Washington D.C., criaram em 2016 a @lgbt_history, uma conta no Instagram que publica imagens de vários arquivos do movimento LGBTQIA+, recuperando pormenores, estabelecendo ligações e identificando pessoas marcantes que muitas vezes ficam de fora da memória colectiva.

“Negarem-nos a nossa história é uma parte fundamental da perseguição às pessoas queer: as culturas trabalham duro para diminuir a importância das nossas vidas e das nossas histórias”, escreve o casal na revista Them.

Os direitos das pessoas LGBTQIA+ (reconhecendo ainda as pessoas intersexo e outras identidades) ainda não estão garantidos em várias partes do mundo.

Actualmente, em mais de 60 países — a maioria africanos ou do Médio Oriente — ainda é crime ter relações com pessoas do mesmo sexo. Direitos como o casamento ou a adopção por casais homossexuais são conquistados através de longas batalhas, como aconteceu esta semana no Equador.

O caminho do reconhecimento da identidade de género também é marcado ainda pela patologização das pessoas que não se identificam com o sexo que lhes foi atribuído à nascença, pela mutilação das crianças intersexo e a discriminação que todas sofrem tanto do ponto de vista institucional como no seu quotidiano.

Mas mesmo nos países onde gays e lésbicas têm os seus direitos garantidos por lei, a discriminação perdura.

Por exemplo, este mês do orgulho LGBTQIA+ ficou marcado pelo mediático caso de um ataque homofóbico a duas jovens num autocarro em Londres, agredidas fisicamente depois de uma série de comentários insultuosos — os crimes de ódio contra pessoas LGBTQIA+, avança o Guardian, têm aumentado desde 2014 em Inglaterra e no País de Gales, o que pode estar também ligado à maior consciêncialização sobre estes crimes e as formas de denúncia.

Em Portugal, onde os últimos anos trouxeram algumas vitórias do movimento, as marchas multiplicam-se.

A Marcha do Orgulho LGBTQIA+ de Lisboa (a 29 de Junho) cumpre a sua 20ª edição e recorda os momentos nos quais tem orgulho no percurso português: a descriminalização da homossexualidade em 1982, o primeiro Arraial em 1997, a primeira marcha em 2000, a união de facto em 2001 e o casamento civil em 2010, a adopção e o apadrinhamento em 2015, a procriação medicamente assistida em 2017 e a autodeterminação de género em 2018.

No Porto, o lema escolhido para a 14.ª Marcha do Orgulho LGBTQIA+ (a 6 de Julho) — que nasceu em 2006 da indignação pela morte de Gisberta — é “O Porto não se rende e o orgulho não se vende”, recordando o debate sobre o cruzamento de discriminações e o papel dos activistas no movimento.

A Marcha do Orgulho LGBTQIA+ no Porto destaca-se por ter uma organização diversificada com cerca de metade de organizações LGBTQIA+ e outra metade com outras organizações de direitos humanos (feministas, contra o racismo, etc.).